Estende o fio fino e a fina trama tece 
a diligente aranha, em contínuo labor.  
E, a trabalhar, assim, naturalmente esquece 
a atormentada lida — o sofrimento e a dor.
E vai e vem e volve e, em volteios, parece 
que uma dansa executa, em medido rigor... 
Por fim, se imobiliza ou finge que adormece, 
à carícia da luz, no mórbido calor...
O cérebro trabalha: — O pensamento é a teia 
que se estende, se liga e prende e se enrodeia 
em torno dessa oculta e diligente aranha...
O poeta, em fios de ouro, as malhas urde e tece... 
No labor que o fascina, a própria mágoa esquece 
e a crias a sorrir, moscas de luz apanha...
Alegria do Céu