Na fazenda São José (propriedade do meu pai no município de São João do Piauí) tinha um pé de mulungu dentro do curral de apartar os bezerros. Acho que vocês conhece mulungu, é uma árvore grande que os índios fazem trabalhos artesanais, tanto da sua madeira que é leve e mole, quanto das suas sementes que são duras, maior que um caroço de feijão e vermelhas. A natureza é caprichosa, justamente na época da seca caem as folhas e fica cheio de flores e frutos bem vermelhos contrastando com a paisagem seca.
Eu acordava muito cedo para ouvir o vaqueiro boiar e tirar o leite das vacas. Ficava em cima da tábua da porteira do curral. E ai ia chegando os pássaros de todos os tipos para se alimentarem das flores e dos frutos do mulungu.
Aquilo era uma cena de rara beleza. Me marcou tanto aquele show de cantoria, que uma noite eu acordei com aquela cena na cabeça, e fiz uma música. Já veio pronta, letra e melodia, só fiz pegar o violão e ir tocando.
Eu vi um sabiá
Preparar
Uma cantoria
Também estava ali
O bem ti vi
Para cantar
Meu amigo curió
Nem precisou
Alguém chamar
Do pé de mulungu
Veio e pousou
Para ajudar
Corrupião, azulão, fogo pagou
Até o velho cancão
De enxerido chegou por lá
Saiu calado, desconfiado
Não quis atrapalhar
O galo de campina e a asa branca
Também chegou
Assum preto e o seu bando
Veio cantando e animou
E eu peguei minha viola
Bem na hora que começou
E fiz o fundo musical
Daquele coral
Que só pássaro cantor