Se meu pai não fosse Constantino
ele seria uma estrada
um longo caminho empoeirado
desses que seguem sempre em frente
por onde também se pode voltar
e começar tudo outra vez
Um caminho comportando muitos passos
- todos os passos do mundo –
por onde eu passo e por tudo que já passei
ligando o rio ao sertão, marcando nossas pegadas
-afluente de veredas, carroçal do tempo-
por onde trafegam homens, bois e ambições
destino dos peregrinos do universo
Se meu pai não fosse Constantino
seria um grande enigma
uma esfinge feita de barro e mistério
devorando a inquietação de quem o contempla
encantado pelo aboio do vaqueiro
Uma esfinge eternizada na caatinga
misturada à cantiga das beatas
e adubada pelo estrume dos bezerros
Mas meu pai se chama Constantino
uma dor que descansa de pijamas
um vazio no alpendre da minha casa