I
Passa um canário
o menino na escola
quer assobiar
II
Ventos de janeiro
transportam tais folhas secas
livres borboletas
III
O céu no sertão
é feito de seda azul
bordado de pássaros
IV
No alto da serra
o verde desce num cipó
e põe os pés no chão
V
Final de semana
o pião dá muitas voltas
e vai tonto ao chão
VI
Manhã de inverno
quando o sol aparece
cantam sabiás
VII
Noite de verão
cachorros de rua fogem
ao ver os foguetes
VIII
O céu azul acorda
e se enche de andorinhas
de todas as cores
IX
Manhã de janeiro
o sol entra na varanda
com ares de dono
X
Foto na parede
a anciã de pé relembra
das negras madeixas
XI
Um livro dourado
com a chuva no telhado
noite de histórias
XII
Balança a palmeira
para caçoar do vento
tardes na praia
XIII
Arqueando as asas
um gavião olha as nuvens
no largo do céu
XIV
Na caixa de jóias
o pequenino cordão
tempo de criança
XV
Imenso baú
as meninas sentam nele
com tantas conversas
XVI
Tarde de calor
num vestígio de lagoa
um burro e seu dono
XVII
Os pratos na mesa
um cachorro faz chamego
nos pés do menino
XVIII
Vestida de ouro
uma borboleta pousa
numa branca flor
XIX
Nos braços do amigo
o ursinho até se esquece
que é de pelúcia
XX
Na sala de aula
abrem os livros didáticos
e recitam versos
XXI
As janelas fechadas
e as folhas da trepadeira
num rumor ao vento
XXII
No meio das flores
os encantos da manhã
um coelho branco
XXIII
Festival de asas
no meio da Mata Atlântica
tantos passarinhos
XXIV
Mesa do café
as conversas do Natal
unem a família
XXV
Num canto da sala
um sofá tão pequenino
casa de boneca
XXVI
Um sabiá canta
no alto da laranjeira
tarde de novembro
XXVII
Flores no asfalto
a criança tem vontade
de ser também forte
XXVIII
O sol já se foi
a rua toda amarela
vestida de lua
XXIX
Um casal de pombos
é bom mesmo se falar
de paz e amor
XXX
Um gato de rua
acompanha um pescador
noite de verão
XXXI
Noite de domingo
a alegria da praça é
a banda de música
XXXII
A brisa da tarde
segue a rota dos canários
e corre na mata
XXXIII
Menino quieto
uma pintura sem cor
na tarde de junho
XXXIV
Gato na poltrona
as noites na sala ficam
sempre na lembrança
XXXV
Galopa o cavalo
no caminhar do menino
brinquedo infantil
XXXVI
Do alto do morro
uma aposta dos meninos
até os ipês
XXXVII
Por trás da folhagem
um resto de sol da tarde
sabor de verão
XXXVIII
É quase manhã
sem medo do sol
XXXIX
Dias de calor
a caatinga sem folhas
para descansar
XL
De ponta cabeça
uma garça refletida
na lama da rua
XLI
Flores tropicais
alimentam beija-flores
dentro da floresta
XLII
Noite sem estrelas
toda a cidade ganha
uma lua branca
XLIII
Noite sem luar
exaltam os pirilampos
acesos na rua
XLIV
Os ipês lilases
contracenam com o verde
nas cores de agosto
XLV
Nas margens do lago
uma jovem solitária
e a água em seus pés
XLVI
Num tronco de árvore
o som de uma cigarra
noite de inverno
XLVII
A mesa da cozinha
nos dias de chuva forte
tem mais convidados
XLVIII
Descida do morro
um ipê amarelo quer
arranhar o vento
XLIX
A criança dorme
sonhar com um lar
L
Corre um cão na rua
embrulhados pelo vento
também os meninos
LI
Na casinha simples
pão com café sobre a mesa
riso dos pequenos
LII
Passam no jardim
formigas aborrecidas
trabalho noturno
LIII
Na beira da estrada
dois jumentos aproveitam
o capim rasteiro
LIV
Cacho de bananas
o ar se enfeita de sons
de abelhas felizes
LV
Cheiro de café
e o tom poente do sol
tarde de janeiro
LVI
Flores violetas
tão sensíveis como as outras
no vaso de barro
LVII
O sol já se vai
os olhares são para um
sabiá na cerca
LVIII
A água da bica
desliza pela calçada
como se brincasse
LIX
Em cima da ponte
um pássaro abre as asas
antes de voar
LX
Num voo apressado
canários fogem dos homens
ao ver a gaiola
LXI
Manhã de verão
duas lagartixas banham-se
aos raios do sol
LXII
Menino do rio
brinca de mergulhador
pra ver os peixinhos
LXII
Um dia chuvoso
quer tanto molhar a rua
como ser do mar
LXIV
Sozinha no galho
entregue ao orvalho da noite
uma rosa branca
LXV
Perto da janela
uma pequenina aranha
em pleno serviço
LXVI
Estrada deserta
nasce quase abandonada
pequenina flor
LXVII
Em água rasa
uma formiga aprende
a subir em folhas
LXVIII
De ponta cabeça
um papagaio belisca
cheirosa goiaba
LXIX
Todo em sorrisos
o sol alarga as janelas
finda-se o outono
LXX
Tantos girassóis
a combinação perfeita
para o belo sol
LXXI
Bicho da goiaba
com a cara no buraco
estragando a fruta
LXXII
Flores desabrocham
ao raiar do sol de inverno
entre folhas frias
LXXIII
Donos da lagoa
um casal de patos namora
ao claro da lua
LXXIV
Cestinha distraída
um buquê de margaridas
cheira os chocolates
LXXV
Casinha na serra
abre as portas para o verde
em léguas de cor
LXXVI
Finda-se o enredo
o ipê perde a cor lilás
pra festa do chão
LXXVII
Levadas ao vento
as folhas de outono pedem
um abrigo ao chão
LXXVIII
Chega um rouxinol
o sol trata de deitar
antes da seresta
LXXIX
Menina de cachos
ela nunca vai crescer
aos olhos do pai
LXXX
A casa no morro
é ponto de referência
pro vento da tarde
LXXXI
As janelas fechadas
e as folhas da trepadeira
num rumor ao vento
LXXXII
O mar tem beleza
ele enche de crianças
na beira da praia
LXXXIII
Cachorro de rua
acomoda-se na praça
para ver a lua
LXXXIV
Sem baladeira
o curió canta livre
manhãs do sertão
LXXXV
Num muro sem cor
uma trepadeira veste
o róseo e o verde
LXXXVI
Criança na casa
o que vai fazer o ursinho
na hora da escola?
LXXXVII
Concurso no lago
de branco as garças concorrem
pala melhor imagem
LXXXVIII
Sploc sploc no banheiro
frágeis nas pequenas mãos
bolhas de sabão
LXXXIX
Barulho no quarto
uma mariposa dança
aos passos da luz
XC
Janela fechada
o vento muda o caminho
e brinca nas árvores
XCI
A cidade acorda
fitando o céu um louva-a-deus
tem os pés no chão
XCII
O som da viola
na varanda da fazenda
noites no sertão
XCIII
No perfil do vento
a palmeira bamboleia
seu teto de palhas
XCIV
No largo da rua
os ipês em tons lilases
conversam do dia
XCV
Dum galho exausto
eis que o bem-te-vi canta
e o repouso esquece
XCVI
Final de semana
o pião dá muitas voltas
e vai tonto ao chão
XCVII
Um banco de praça
jamais contém solidão
num jardim florido
XCVIII
Dentro da floresta
um raio de sol alcança
uma vitória-régia
XCIX
O menino acorda
são tantas as brincadeiras
que o dia é curto
C
Perfumes do campo
abrindo-se na manhã
junto da casinha