Sou como uma folha seca arrastada pelo vento,
sou como o solo em que pisam os soberbos,
sou como um rato sujo que passeia pelos telhados,
sou a garrafa que o bêbado joga no chão,
sou a dramática história que não foi contada,
sou como o lixo espalhado depois da enchente,
sou a última rosa lançada na sepultura de uma meretriz,
sou um show de humor no qual ninguém riu,
sou como o lunático atropelado depois de fugir do hospício,
sou como a vela que o vento não deixou acender,
sou como as tripas da galinha que foram devoradas pelos urubus,
sou como uma criança abortada e jogada no rio,
sou as sobras da comida de um imperador,
sou a última letra da carta de um suicida,
sou como a blusa velha usada para limpar o chão,
sou o último dente presente na boca de um idoso,
sou como as cinzas de um papel que a maré levou,
sou como o remendo na roupa de um mendigo,
sou a goiaba podre rejeitada pela donzela,
sou como um pedaço de unha perdido numa topada.
Enfim, eu sou alguma coisa...
