Pedalar as dores
Pedalar a vida. Um pedal na luta,
força no pedal
‘Mais uma subida, que filha da puta!’
Vencer a distância, vencer o cansaço
levar na moral. Levar palavrão
cortar contra mão, fugir do sinal.
Por isso é enxuta.
Pra que tanta raiva, pra que tanta pressa?
Magrela de aço, magrela valente,
sem medo e sem freio.
“Saiam todos do meio!’
Quantas quedas, meu deus...
Magrela afoita, da lida e da gota
serena, pequena, danada de sonsa
‘Respeite a responsa!’
Encara o batente do trânsito indigente
‘Quanta ignorância de gente indigesta!’
É uma bela amiga essa nossa atleta
não foge de briga, não corre do pau
desliza na chuva, se manda no sol
enfrenta poeira, desaba no chão
mas no fim das contas, matreira e esperta,
transfere o cansaço para as pernas da gente
e tranquilamente vai tirar sua sesta.
Dona bicicleta não tem nada de besta!