Poesia

Dissimulação (faz de conta)

Interessante, a dissimulação...
Dissimula, dissimula, e quando a gente procura
encontra e faz que não vê. Dissimulamos também.
É um falso fingir que não convence ninguém,
verdade oculta por um véu que mais mostra do que cobre.
Dissimulamos todos. E o mundo interage e consente.
Esse faz de conta intangível que envolve as relações
talvez seja ele o disfarce que resta
para suportar o suplício das veladas frustrações.
Faz de conta que não chora, faço de conta também
e a dor mentida em conjunto consola o pranto retido;
Faz de conta que não olha, mas seu olho disfarçado
vê que meu olho calado disfarça e olha também;
Faz de conta que não quer, quando o que quis não se fez
e sempre há perdão pra o fracasso promovido a altivez;
Faz de conta que não liga, mesmo o ciúme exigindo;
Faz das tripas coração, pra alimentar o orgulho;
Faz barulho pro ladrão, pro medo ficar dormindo;
Faz de conta que é montanha, mas é pura solidão
e a solidão das montanhas é conta que ninguém faz
Fazer de conta é uma conta que só se conta aos demais
Não há como dissimular a mera simulação.
Uma é mentira exposta, outra é defesa da alma;
esta recompõe a calma, aquela é agressão da farsa
A dissimulação é uma verdade incubada,
com oblíquos olhos de cigana mirando a palma da mão.
Sua verdade é contrariar o destino. Dissimuladamente.

Pedro L R Pereira Pedro L R Pereira Autor
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