A rua corre
eu corro atrás
menino vai
não volta mais.
Quem não se atrai?
A rua é cheia
choca e não cria.
A vida é crua
a noite é fria.
São muitas pedras
poucos caminhos
já ocupados.
Atiram pedras
e escondem a culpa.
Estranhas pedras
alucinantes
que se evaporam
como o silêncio
indiferente
que vai passando
entre os passantes
que passam ausentes
O abandono
é rua ausente
e cobra caro
cada lição.
Educa pelo avesso.
O sacrifício
de um tostão
não vale o vício
já embutido
no próprio preço
da ilusão.
Menino morre
quando ele dorme
no medo das calçadas.
Nasce um estranho
anjo de aço
na rua escura
que está repleta
da amargura
de muitos filhos
de estranhas faces.
Filhos alheios,
de pai nenhum.
Filhos do meio
da nossa fuga.
A rua suga.
É a porta aberta
de um alçapão
que fecha após.
Dissolve os laços
e engole a seco
a alma órfã
e aprendiz.
Depois expele
pelas esquinas
um corpo imberbe
de uma menina
já meretriz
A rua é fera
deflora a inocência
devora a esperança
destrói os descendentes
ainda verdes
que nós geramos.
A rua somos nós
pequenos nós
andando sós
surdos à voz
que clama atrás
de uma chance.
Geramos filhos
pra que eles cresçam
fazemos ninhos
para que eles brinquem
tecemos lares
pra que eles voem e voltem
quando se vão.
Mas voltem inteiros
voltem maduros
voltem senhores
dos seus destinos
e não meninos
embrutecidos
de escuridão.