Poesia

Charada

Eu não venho dos anos oitenta
onde a esperança tinha eco
e as palavras perfume
Os homens eram todos jovens
e as mulheres vestiam-se de sóbrias
Eu venho de antes disso
Lá de onde o grito estrangula
o hálito da nicotina
distraindo o medo imberbe
entalado na garganta

Não venho lá do sertão
nem mesmo do litoral
onde por mais que haja mar
tudo acaba em solidão
Eu venho é de um ninho morno
-cada ovo um menino –
muita perna, eternas luas
uma rua, uma província
menor do que meus castelos
e bem maior do que o mundo

Não nasci do sopro mágico
nem da costela extraída
do latifúndio de Adão
-onde Caim se perdeu.
Nasci do barro pagão
cozinhado em chama quente
que arde enquanto consome
A fome da minha carne
vai devorando o esqueleto
enquanto a luz se propaga










Pedro L R Pereira Pedro L R Pereira Autor
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