Poesia

Inquietante

Inquietante
Sinto-me isolada, sinto que as paredes aos pouco encolhem empresando-me em um abismo. E tudo parece tão perdido, creio que não tenha mais forças em minhas mãos... O ato de viver tornou-se insuportável, suspiro... Querendo suprir o ar que me falta. Na ânsia, choro novamente e as lagrimas mais uma vez fogem do meu controle e as sinto caindo tão levemente, molhando os meus lábios, descendo sobre meu pescoço... Molhando a cama. Enrolo-me ao lençol e um frio que surge sem explicações meteorológicas consomem meu corpo. “O ato de viver tornou-se insuportável” falo em voz baixa tentando controlar o soluço... Durmo tentando aliviar o peso que minha alma carrega e percebo o quanto sou feliz dormindo, meus anseios, medos, decepções não me perturbam enquanto estou de olhos fechados sonhando com um mundo que definitivamente não é meu. Acordo e a rotina fazendo festa ao saber que irei vivê-lá de má vontade... Inicio o primeiro ato de uma peça que nunca quis encenar, sento na cadeira e por alguns segundos olho a garrafa de café e suas flores desenhadas já desgastadas, pego a xícara e a posiciono lentamente no pires, minha alma parece realmente não ter pressa, despejo o café e admiro a fumaça dançando... Subindo lentamente, desastrada como sou sempre queimo a língua: “Que droga!” falo baixinho. A empregada liga o rádio velho da cozinha... “Rasgue as minhas cartas e não me procures mais” a versão mais triste da música de Erasmo Carlos aguça-me os sentidos e recuso-me á passar mais um minuto na cozinha. Mochila nas costas, cabelo colocado atrás da orelha... Chegada a hora de me olhar no espelho, no fundo estou ciente que meus olhos estão inchados por mais uma noite de choro... “1,2,3...vamos lá!” E a cena na qual me deparo já era a que eu idealizava segundos antes... Cabelos loiros desajeitados, olhos inchados, tristes, mas ainda é possível encontrar um brilho neles... Tão verdes tentando transparecer alegria... Apesar de falsa, o sol brinca com o meu olhar e acabo rindo lentamente, mas não o suficiente para mostrar os dentes. “Levante a cabeça” falo comigo mesma e em passos lentos desloco-me até escola, estou pronta para entrar em ação. O primeiro sorriso é dado ao vigia sempre calmo no portão: “Bom dia!” fala entusiasmado ao me ver, tento retribuir na mesma tonalidade de voz com a mesma agitação: “Bom dia!” e acabo conseguindo o tal feito. E luto calmamente durante toda a manhã contra os pensamentos evasivos... Recreio... Gritaria... Nada parecer abalar-me enquanto estou em conflito interno comigo mesma... Aula acaba e os fingimentos também, volto ao meu quarto e as paredes iniciam sua rotina... Assustando-me. “Sinto-me assim tão desertificante” A voz suave da Paula Toller entra lentamente pelas brechas da porta do meu quarto atingindo meus ouvidos, enrolo-me novamente.

Luana Monte Luana Monte Autor
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