Poesia

Náufragos de Uma Nova Era

Náufragos de Uma Nova Era

Em meus remotos sonhos, as telas virtuais não amanheceriam nos clamando somente para viagens inúteis e costumeiras; porém necessárias - o inútil serve de parâmetro para mudanças na alma. Além das iscas de sorrisos fálicos, fartos, fáceis... neste novo mar de incertezas, uma nova rede se arma na captura de almas desavisadas; teia sem dó, sem nó, sem a ruptura que necessita da paciência e ensinamentos de antigos navegantes: “Olha para cima moço! Não olha para baixo senão cairá!”

A cada manhã, telas multicores clamam-nos para a preocupação da combinação que molda nosso egocêntrico. Apelam para o brilho do modismo passageiro em nome do aclamado “Viver Bem”. Seremos “bregas” ou “Chiques” através dos conceitos do uso do brilho excessivo ou parco nas nossas (poucas) roupas ou nossa conduta de bem comer, bem sentar, bem cheirar... Até mesmo, bem morrer!

Ante as multifaces visuais, viajo no tempo numa canoa simples sem redes, sem telas... Revejo meu anzol da (im) paciência à espera dos cardumes passageiros. E estes veem em forma de palavras, nadando frementemente numa mente infantil que buscava conquistar outros mundos, além do seu pequeno rio, além mar... Mais tarde, aprenderia que nem todas as águas chegam ao mar; mares tenebrosos, obsessão de conquistadores - muitas vezes, meras vaidades buscando aventuras fúteis... Conquistadores de sonho em batalhas inúteis e passageiras.

Com a alma moldada pelos meus cardumes de infância, ainda “banho nos mesmo rios, mas nunca nas mesmas águas”! Hoje, as armadilhas da minha inocência estão num canto guardadas. Meu remo se alterna em outras águas para me direcionar na vida; aventura num mar, quase sempre, de maniqueísmo - uma investida em cada lado. A vida subindo e descendo em calmarias e tormentas.

No descanso da matura-idade, seremos náufragos reaprendendo a traçar os mesmos caminhos para novas partidas, os mesmos retornos... Outras investidas em um mar fabuloso, tenebroso... Cabuloso!? A cada adormecer da bruma matutina, amanhecemos donos do mundo nos nossos cais que aconchegam conquistas e decepções de nossas jornadas. E nem amanhecem bem os sonhos, já zarpamos entre os enlaces das revoltas e abraços do inusitado. Muitas vezes seguimos os mesmo caminhos maleáveis que escolhemos para nossas medíocres acomodações. Afinal, nem todo barco da vida tem em seu lastro a certeza que poderá alcançar o desconhecido sem cair no abismo de tentações que a vida nos oferece a cada jornada.

E ninguém chegará à ilha da maturidade sem antes navegar em mares desconhecidos; sina de antigos e novos navegantes. Velhos marujos com suas palavras perdidas no tempo; tempo que rumina seus ensinamentos para mostrar aos timoneiros que sempre será necessário traçar novos rumos aos novos aprendizes de antigos marujos. Em muitos cais, vegetam pobres marinheiros imberbes de vida, desdenhando dos ensinamentos do tempo antes de se perderem em mares virtuais. E nesses novos mares fabulosos e caudalosos – sem sal cristalizado, agora digitalizado - engana-se quem sonha conquistar um mundo desconhecido e glorioso sem os ensinamentos do tempo; ensinamentos naufragados – guardados – no inconsciente de antigos marujos caçadores de discernimento.

A maturidade é uma ilha simplória que, alardeada pelas intempéries do pedantismo juvenil, suporta revoltas nas suas encostas para ensinar a perdidos navegantes que, no momento mais glorioso de nossas aventuras, um copo com água potável vale mais do que todas as águas de um oceano.

Amanhã, faces de telas multicores - novamente - clamarão para mudar nossas vidas; como sempre; sem livros, sem poesias, sem as magias do silêncio do regato, sem as bravuras do sal adocicado de antigos mares... Sem os cardumes de palavra que alimentam a alma!

Kal Angelus Kal Angelus Autor
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