Poesia

No Mar da Minha Alcova Anímica*

No Mar da Minha Alcova Anímica*

No passado, enquanto ninfas cantarolavam cânticos de sedução sob meu lençol, à minha porta, os sinos da velha caravela de sonhos chamavam-me para mais uma aventura nos mares poéticos da minha alma. E não seguia sozinho! Não era timoneiro da minha própria alma. Não conhecia todas as angústias que me desafiavam nessas águas irrequietas e tenebrosas; loucas por aventuras de homens incautos aos primeiros dissabores dos corações angustiados pelas decepções do amor.

Hoje, ainda guiado pela mão de antigos sonhos, continuo a buscar o velho farol da (in)sensatez!

Ao mar, as caravelas das nossas incessantes aflições. A brisa das incertezas move os destinos de todos os homens. Somos, por natureza, caçadores de emoções... A luneta da busca incessante vaga entre céu azul e águas irrequietas: templo maestro de homens que fascina aventureiros em busca de almas e posses. Almas perdidas em ilhas feitas pelos seus desatinos; posses que não atenuarão as dores ilhadas nos seus próprios destinos. Não nos contentamos em terras firmes, somos sonhos que não vingam nas incertezas da vida que vão se diluindo entre o nascer e o pôr do sol. Diariamente, precisamos adentrar ao mar de nossas buscas incessantes.

Ao convés, todas as nossas eternas incertezas. A cada manhã, necessitamos do autojulgamento de nossos atos hodiernos e passados. E não nos preocupemos, o mar, agora calmo, espera silenciosamente pelas nossas atitudes para saciar sua vontade de revolta; e ela não tarda. Somos alimentadores da ruminação hostil de tudo aquilo que se voltará contra nós. Somos marinheiros recrutados nas grutas de nossas insatisfações diárias. Ante a calmaria dos mares, somos depósitos de frivolidades atenuando o medo atávico da morte com nossas buscas de aventuras nos convés das incertezas.

Ao sal, as angústias insalubres derrotadas. É preciso caminhar sobre a ponte da condenação, só ela ameniza nossas fobias e as nossas gulas de atitudes adversas ao homem; o medo é a segurança do lastro da alma. A vida não privilegia seus marinheiros e suas angústias. Ela carrega no seu convés todos que se dispõe a se lançar neste mar de aventura; poucos sobreviverão, poucos encontrarão suas ilhas de silêncio e paz... Muitos serão tragados pelas incertezas e serão levados pelas ondas que lhes darão um novo recomeço. Toda onda morre na praia para ser reverenciada pela angustia de homens.

Ao solo, o retorno do descanso que pouco dura. Daqui um pouco, zarparemos em novas conquistas e decepções; assim se faz valer o valor da vida das inconstâncias dos poetas e suas ninfas sedutoras de almas. E na concha da vida, ressoa antigas histórias que teimamos não querer ouvir. História de loucos viajantes em busca de um porto seguro que nunca foi encontrado; apenas sorrisos passageiros com reles sombras da brisa de um regato; por enquanto, sonhando em solo e aguardando os mistérios de outras vidas.

Enquanto seguimos como errantes navegantes, brisas e revoltas adentram nossas alcovas anímicas e nos convidam para aventuras insaciáveis em caravelas que singram mares de mistérios cada vez mais incessantes.

Kal Angelus Kal Angelus Autor
Envie por e-mail
Denuncie