Poesia

Angelus Verde

Agora meu peito é um rádio:
Pulsa ondas de baixa freqüência
Fragmentada(mente) lateja minha consciência
As palavras se interrompem em paredes imaginarias
Errantes, resvalam entre valas, declives
E tudo que há pela sala
São fantasmas invisíveis

Entre zonas de eras eternas
Eu tenho a cor da água
Eu corro em câmera lenta
Desencarnado, suponho um purgatório
Reconheço o infinito no espaço físico
Esvaeço no abstrato desse rio químico
Cuja fonte emana menta
N’algum canto em minha mente

Agora ao som da música em câmera lenta
Cada cena do cinema surreal
Em teatro, em som, em sombra, em cor
Em alma, como um Almodovar
Termina e recomeça sem um elo exato
Tenho asas no sapatos
Tenho um fardo na cabeça
E aos olhos da menina que me miram, luas cheias, posso ser um Deus
Ou posso ser o avesso
Recolhendo culpas num saco de lixo

Vivaldo Simão Vivaldo Simão Autor
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