Certo sonho me ocorreu
(talvez nem mesmo um sonho fosse).
Talvez apenas um resquício de lembranças
ou coisa outra qualquer.
Nele me vejo
(ou talvez queira ver),
o que um dia já fui.
Um tempo onde viver já bastava,
onde sentir era mais simples...
quando foi que tudo mudou?
já nem consigo lembrar.
Nem mesmo o chão que piso parece igual.
(Ou quem sabe só eu tenha mudado!)
Ensinaram-me que preciso ter,
que preciso mostrar que tenho.
As medidas de meu corpo foram esboçadas num papel.
Eles tapam meus olhos, ouvidos e boca.
Por ela enfiam o que devo dizer,
pelos ouvidos o que devo pensar,
e pelos olhos o que devo gostar,
e às vezes perseguir obstinadamente.
E de mim, o que sobra?
também isso não sei.
Talvez só o número de série que me imprimiram.
Na verdade acho que já nem vivo,
durmo ou acordo...
apenas ligo e desligo,
numa profusão de deveres a eu incumbidos.
O coração já nem mais bate, apenas...
Não sei.
Mesmo o amor enigmatizou-se.
Sou(somos)
como retratos emoldurados,
cada vez mais retirados em nós mesmos.
Ah!Acho que lembrei o que tenho de próprio:
O mesmo desejo de ser feliz,
que mais do que nunca parece distante...