Que tragédia essa minha, sou poeta...
Tudo é mais intenso,
as lágrimas do porvir
ao invés de serem poços,
são mares de destroços.
Que tragédia essa minha, sou poeta...
O pesar de alguns dias
são anos de horror
nas cirandas da tristeza,
nos pactos do amor.
Que tragédia essa minha, sou poeta...
Tudo triplica, tudo multiplica
e ultrapassa a fortaleza,
põe dúvida, tira a certeza.
Que tragédia essa minha, sou poeta...
O que era brisa se findou,
balançou cabelos,
e agora, sem cessar :
tempestades, pesadelo!
Que tragédia essa minha, sou poeta...
A pior das essências,
de todas, a mais tirana.
Que faz a gente sofrer
e torna a vida insana.
Que tragédia essa minha, sou poeta...
O sentir é sem igual,
a dor que nos outros morre
no poeta é imortal.
Que tragédia essa minha, sou poeta...