Poesia

Colapso cardíaco

Massa compacta, vermelha espalhando vida pelo corpo
Estás cansado, eu sei.
Estás velho, e tuas válvulas já não respondem aos estímulos.
Estás corrompido, desiludido, despido de sentimentos.
O que posso fazer?
Em que te posso ajudar, velho coração?
Já não amas, e bem verdade,
mas também já não sofres por amar.
Tuas energias são parcas, e teus sentires já não importam.
Sabes, tenho-te pena.
Parte-me em partes iguais, a minha vontade de recuperar tua capacidade de sofrer.
Estás velho, estás morrendo.
Estás deixando meu corpo.
Estás deixando-me inerte.
Pouco a pouco, lentamente.
Pobremente.
Dor, dor aguda.
Vais partir.
Vais deixar-me letargicamente.
(meus olhos vertem lágrimas pela tua agonia)
Vou deixar-te ir.
Tu e tuas veias entupidas...
Tu e tuas artérias mal distribuídas...
Tu e teus ventrículos, tua circulação em moda.
Vou tornar-me seca e cruel.
Meu rosto já não poderá exprimir alegria pela manhã.
Meu rosto já não poderá chorar com o por do sol.
Ainda bem.
Já... Adeus.
Parta e leve contigo tuas malditas coronárias!!!

PS: num dia de muita anatomia.
Num dia de muito colapso na espera de você.
08/06


Nancy De P Amarante Nancy De P Amarante Autor
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