Velho monge, vens de longe
O que esconde em tuas águas?
Cheiro de terra sofrida
Banhada de gado seco
Esterco feito da fome
E carne de peixe fresco
Que mata a sede das ruas
E veste o nu do esqueleto
Velho monge, vens de longe
O que esconde em tuas águas?
Toda amargura de um povo
Que planta pra não colher
O triste aboio do vaqueiro
Molhando o rastro do boi
E a farra do sapo-boi
Quando é tempo de chover
Velho monge, vens de longe
O que esconde em tuas águas?
Cantigas de lavadeiras
O vôo do mergulhão
A solidão dos poetas
Corredeira de esperança
Levando o nosso destino
Pra’s águas do Maranhão
Velho monge, vens de longe
O que esconde em tuas águas?
Mentiras de predador
Miragens de sete virgens
Coragem de pescador
Muitas coroas de espinho
Uma rede cheia de dor
E um vazio no caminho