EXISTENCIAL
Ando por uma rua
de passo a passo
de olhar desvestido
num caminhar sartreano
Suas esquinas vão-se pelo mundo
Mas meus pés continuam pelo mesmo caminho
Tantos sonhos eu vi nos olhos de vidro de minha mãe
Pareciam ser muitos, distantes
Mas lhes davam sustento
Para suportar as dores, à noite, que o trabalho lhe dava ao corpo
E o dia seguinte não podia esperar, nem sarar
Ela se foi e eles não vieram
Tanta coisa eu queria dizer-lhe
Sem perceber que ela já sabia
É difícil ver nos olhos de sua mãe
O “quanto custa” da vida:
Trabalho, cansaço, fadiga
E um salário tão salgado
Perdi meu tempo em brincadeiras
Em cidades que eu fazia, areia e água
Em pessoas que eu fazia, pano e linha
Até descobrir que elas eram de verdade
Estou nesta rua
Vejo pessoas e elas não me vêem
Pois elas vão e vem
Tem horários, preocupações e nem ao menos sabem por que
Tão vazias quanto um domingo à tarde de TV
Mas estou nesta rua
E na calçada há um palhaço
E ele imita um ator
Refletindo sua falsidade
Que na verdade é tão verdade
Pois é arte
Ando por esta rua e ela é tão cinzenta
Suas janelas são cinzentas
Seus muros são cinzentos
E tudo é tão cinza
Não fui à escola
E embora lamente, encontro um velho
ele me diz que foi, porém; lá, não aprendeu nada
Apenas viu que é preciso obedecer e ser igual a tantos
Se é assim, qual a diferença entre cadeia, quartel e escola?
Somos um bando de cegos em total obediência
Passos sem pra onde
E eu nesta rua que não acaba
Penso em meus amigos
Sei que onde estiverem, estão trabalhando
Enquanto eu aqui pensando
Nesta rua
Caminhando com meus tênis
Que não são do último comercial
Nem da última moda
Eu tenho pressa... mas agora vou dormir