Poesia

A revolução dos tímidos

E se os tímidos - revoltados com os audaciosos e extrovertidos
e os atirados, e os falantes e os atrevidos-
fizessem a sua revolução?
sem derramar sangue, nem dizer um palavrão?
Um tímido unia-se a outro tímido que a outro tímido juntava-se
e um exército de tímidos formava-se em menos de um mês.
E se os recatados vencessem os exibidos?
E se a maioria silenciosa descobrisse a superioridade moral da timidez?
Abafaria o domínio secular da minoria exuberante
sobre a sóbria polidez dos que levam a vida a ruminar
Detrás de cada par de óculos magro sairia um tímido impávido
destronando o reinado dos fortões de academia
- muitos deles tímidos enrustidos –
para proclamar a suave constituição consuetudinária
que consagraria a supremacia silenciosa do rochedo sobre o mar

“Fica estabelecido que a intimidade de um homem é seu castelo e como tal é eternamente inviolável;
E de que todo anônimo tem direito a ser um anônimo feliz, sem que ninguém venha perturbar a sua sagrada ausência;
É proibido incomodar a quem quer ficar esquecido. O esquecimento é o lugar próprio dos iluminados;
É sempre permitido desviar o olhar de olhares estranhos, até que esses se tornem íntimos, cristalinos e confiáveis;
Ter as faces coradas quando a alma ficar nua doravante será considerada virtude e jamais motivo de gracejos;
A vergonha terá força de lei e é irrevogável;
Fica extinto o país da resposta pronta; Em seu lugar funda-se a nação da pergunta que cala;
O silêncio entre os homens será o alimento da sua aliança;
A insegurança será sempre preservada como caminho mais seguro para se chegar à verdade;
A ternura da timidez sempre será superior à soberba da certeza;
Revogam-se as estridências contrariadas”


Pedro L R Pereira Pedro L R Pereira Autor
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