Não sei que força é essa
que me faz mover as pernas
por entre ruas,
alamedas, ruelas,
becos e viadutos,
quando as setas de minha consciência
apontam para o descanso.
Que força é essa,
capaz de me fazer dizer
coisas libidinosas,
tão sublimes e devastadoras
obscenas e angelicais?
Que força é essa
que me faz transpor
as barreiras escuras,
os fantasmas,
a estreiteza labiríntica dos passos,
a angústia,
o clarão dos faróis do ônibus coletivo
que acorda o vigia
na madrugada?
Nesta mesma madrugada
sonhei com a lenda
do Cabeça de Cuia
e a única cena pulsante
era o suplício
da mãe.
Nenhuma Maria surgiu
em meus sonhos.
Contei até sete
e nada de Maria.
Não houve comoção
na madrugada
quando em mim
um riso estranho desdenhou
a arte
rarefeita
do homem
e suas poesias
catedráticas,
performáticas,
lunáticas.
Não houve sequer um sorriso vermelho,
negro,
impetuoso,
que me fizesse sentir aquele cheiro de terra molhada,
despertando o sentimento de tudo
ou de nada, mas nunca esqueci o suplício da mãe.