Poesia

Pó solúvel

E agora tu me transformas em lembranças.
Quanto tempo até que eu não exista mais?
Por quanto durará meu gosto? Meu rosto?
Apenas a lembrança solúvel do que fui, até
Que não saibas mais o que fui ou se fui
O que fui de concreto, de sentimento, o que fui de sonho
Já não te bastam,
E apenas o sono te reste, untado à fé.

Talvez uma letra, um toque. Uma barba mal – feita
Uma frase solta no tempo
Tragam-te no vento um cheiro doce
E o sentimento de que fora feliz
E sorrirás apenas, sem sentido
E não conseguirás razão alguma a essa felicidade
Pois tua alma estará presa como tuas mãos
Como se teu corpo tivesse seguido sozinho
Na certeza e no tempo...
Difícil voar assim.

Quando apenas esse sorriso breve?
Em quanto a minha morte, a lenta morte
De todo símbolo, de toda lembrança, de toda significância?
Até quanto o sentido dos poemas
O sentido das cartas presas na parede?
Em quanto os filmes ao final da tarde
E o amor contido no calor da noite?
Por quanto haverá sentido?

Me pergunto por quanto existirei.
Quantas vidas cabem em um segundo,
Em uma dúvida, em uma desesperança?

Manoel Guedes de Almeida
Teresina – PI, 03 de setembro de 2011.

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