Poesia

Cabeça-de-Cuia

Cabeça-de-Cuia

ilustração: Rafael Nolêto

Crispim foi pescar quando a fome apertou
Passou toda a noite na beira do rio.
Mas foi tudo em vão, pois nada pegou
E continuou com o bucho vazio.

Decepcionado e sem peixe na mão
Voltou para casa sem a refeição.
A velha mãezinha, com muito esforço
Preparou-lhe um caldo com resto de osso.

A fome era grande e o estômago roncava
Estava em fase de auto devoração.
A perna tremia, a cabeça rodava
Crispim recebeu o encosto* do Cão.

Possuído pela fome, fez do osso sua arma,
Espancou a própria mãe e definiu o seu carma*.
A mãe injuriada* praguejou o filho ingrato,
Que reclamou da comida e cuspiu no próprio prato.

Estava formada a bagaceira!
A cabeça do jovem começou a inchar,
Nos dedos surgiram pelancas,
As pernas ficaram mancas.

Naquele momento a terra tremeu,
Crispim atirou-se na beira do rio.
A mãe deu ataque, ligeiro morreu
Foi o efeito da praga que logo surtiu.

Um monstro sinistro ali surgia
Criatura horrenda, cheia de magia.
Para desfazer toda essa maldição
Cabeça-de-Cuia tem uma missão.

Sete virgens de nome Maria,
Cabeça-de-Cuia deve devorar.
Deve caçá-las de noite e de dia,
Senão sua saga não vai terminar.

Seis meses no Rio Parnaíba,
Seis meses no Rio Poti.
Seus lamentos só terminam
Quando o seu fardo* cumprir.

Rafael Nolêto Rafael Nolêto Autor
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