Poesia

Eu desejo

Eu desejo a vida nua e crua,
Desejo a batalha aguerrida,
E o dia que começa cedo.
Desejo as preocupações,
As quase vitórias
E o arrependimento por não ter feito mais,
sempre acompanhado de novas esperanças.

Eu desejo a falta de café à mesa
O longo caminho
E o sol lancinante.
Desejo as flores caídas
As árvores sem folhas
E um horizonte cada vez mais distante e impossível.
Desejo as portas fechadas,
Os nãos e os nuncas,
O convite desfeito
E toda a simplicidade das coisas.

Este meu coração é tolo.
E a minha cabeça é como coisa
Que não se mistura com as gentes do mundo.
Por isso tanta falta de desejo no sangue
e tanta inércia nos olhos.

Confesso que tem dias que eu desejo.
E os meus desejos sempre recaem sobre antíteses.
Desejo a glória e a santidade,
para depois desejar apenas o silêncio.
Desejo a conquista e as palmas,
para logo depois querer estar longe de tudo.

Desejo tantas coisas...,
que ante a complexidade dos mundos
e a ambiguidade que existe em mim mesmo,
eu vivo como vive o velho, de sua janela,
desejando a moça
sem lembrar do tempo,
olhando as ruas e a chuva com olhar saudosista,
mas sem arrependimentos.

Eu vivo como um eterno viajante de mim mesmo
querendo tudo por onde passa,
mas que sem obter nada continua
imaginando novas cidades, coisas, pessoas e criaturas
como a tenra criança que brinca imaginando
reis, rainhas e moinhos de vento.

Luís Carlos Luís Carlos Autor
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