Lá longe na campina
Vejo os sonhos mortos
Que fazem tintilar
Lindos sinos de vento
Descendo a campina
Corre um rio de sangue
Que faz crescer os limoeiros
Dos quais sou flor distante
Mais ao longe, na campina
O orvalho que cai a noite
São lágrimas da boneca cega
Que refletem seus olhos de vidro
Quando se passa pela campina
Deve se ter muito cuidado
Pois as joias brilhantes
São borboletas petrificadas
Há mil anos na campina
Um júri de insetos mortos
Condenou por ter partido
A mãe das estações esquecidas
Desde então, na campina
A chuva cai sempre quente
Sobre velhos relógios de sol
Pendurados nas árvores secas
O segredo da campina
Está nos sonhos dos velhos
Afogados em angústia
Amarga, dolorida e espessa
Nessa mesma campina
Brincam almas de crianças
Ainda longe de saber
Que estão desaparecidas
O céu dessa campina
É da cor do amanhecer
E voam bolhas de sabão
Sopradas pela água do mar
Pelo ar dessa campina
Viaja sem rumo o som
De uma doce harpa antiga
Feita de ossos humanos
A verdade sobre a campina
É os sonhos que carrega
Os suspiros que exala
Beijos esquecidos que guarda
Mas o que é a campina
Senão a vida?
E o que é a vida
Senão a ilusão?