Poesia

Há Portas Fechadas

À meia-noite vimos um homem de costas para o Sol.
Ao escutar os passos, o amigo infiel abandona a sala.
Cheiro da chuva de verão ao redor, suspiros afoitos.
No vão, avolumam-se sombras dispersas (inesperadas).
É a carne envilecida a rejeitar a fugaz semente.

A jarra de leite sobre a janela ratifica o presságio.
Vento negro e inquieto a lançá-la ao solo de madeira:
Rio de pano a enfrentar a fina poeira da história.
Três irmãos espremidos no vácuo de um único retrato.
E o rastro vivificado da aureola se desfaz em fuga.


Massagem ligeira sobre os ombros com mãos escaldantes.
Anjos com asas inúteis a rodear o monturo de credo.
Passos em desequilíbrio sobre o meridiano trêmulo
O velho lençol a encobrir a parede encardida:
Débeis lampejos do curativo indiscreto.

Estrelas negras de natal. Bonecas mutiladas em decoração.
Lançam em desordem arranjos dourados no vestíbulo da sala.
Riqueza de festim a ornamentar o tédio.

Ao fundo, o holofote irresistível ilumina o peito atingido.
Flechas mortais, raízes em vôo. Sonhos de mil noites de verão...

Deito-me sobre o peito massacrado da velha criatura
E de um só golpe, cerro a janela, a casa, a cidade e o mundo inteiro.

Lucas Rodrigues Lucas Rodrigues Autor
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