Poesia

Fim de Festa

Sobre a mesa gasta
E meio enferrujada
Vestígios da noite passada
Garrafas vazias, quebradas,
Jogadas.
Copos, aqueles
Reaproveitados
De extrato de tomate,
Largados a esmo
Pelas cadeiras e no chão.

Alheio a isso
Um homem sentado,
Numa posição contorcionista,
Vaga em si mesmo.
Olhos vermelhos,
Semiabertos,
Absortos num sono/desmaio
Buscam fuga em outro lugar.

A seus pés
Uma via láctea de vomito
Ornada por uma constelação
De arroz,
Vindos de um estomago
Agora vazio
E de uma alma mais vazia ainda.

Foge assim
Dos pensamentos do dia a dia
Da família distante,
Do trabalho maçante,
Do salário miséria,
Do sexo precário,
Com putas feias e baratas.
A fuga, a cachaça,
É barata e o faz dormir bem
E esquecer que ele é
Quem é por um tempo.

O faz voltar a ser jovem,
Pronto a mil aventuras.
O faz voltar a ser forte,
Valente, enfrenta deus e o mundo.
Mas tudo com prazo de validade,
Pois na manhã seguinte
Volta a idade, a covardia.
A dor o corpo acostuma
A solidão a alma definha.

Essa trilha etílica,
Caminho tortuoso,
Escolha (?) infeliz
De viver em névoa fugaz
Realidade alterada
Que apesar de etérea
Afaga a paz da sua alma.

Filipe Pereira Filipe Pereira Autor
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