Poesia

NUA

NUA

A pele exposta na claridade do quarto,
Desprotegida do tecido azul de linho,
Que a fábrica falida do bairro teceu.
Caminha em passos curtos e firmes,
Ora do corredor para a cozinha,
Ora do canto da sala para o sofá.
Na janela, o olhar fixo e distraído.
No meio da tarde, a rua continua deserta.
Barulhos de motores a diesel distantes
Seguem seus caminhos com ruídos cada vez mais baixos.
Na impaciência, os pensamentos fogem,
Descem flutuando ao primeiro andar,
Chegam aflitos ao térreo se perguntando:
Será que mantenho minha nudez?
E se ele não puder chegar?
Vestirei minha roupa nova de cor forte,
Deixarei a calcinha úmida no varal,
O sutiã pendurado na maçaneta da porta,
A esperança depositada na geladeira.
O batom vermelho que me anima
Empurra-me na escada de corrimão de ferro,
Em direção ao primeiro piso,
Em direção ao nada.

Obra registrada no EDA.

João Freitas Filho João Freitas Filho Autor
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