Poesia

O canto do bem-te-vi


Do trecho do pontilhão à igreja de Nossa Senhora do Carmo, seguindo a rua para o poente, tem-se de passar pelas antigas carnaúbas. Elas estão lá por cerca de dois séculos, entre folhas verdes e o vento da manhã, apresentando seus frutos para quem anda por lá.
Preciso contar, pois a sensibilidade de certos meninos é, por vezes, mais despertada pelo prazer de empunhar a baladeira do que ouvir o canto de um pássaro em livre no correr do dia. Traquino, logo, de tiro certeiro, o garoto invadiu a área cheia de palhas secas e espinhosas das carnaúbas forjando uma espécie de perseguição muda a um bem-te-vi.
Seus pés eram senhores da dor, pois os chinelos, enquanto carregados do peso infantil, prenderam-se num espinho da palha que estava ao chão, mas ele não notou. O menino continuou com satisfação a analisar o melhor ângulo para abater o pássaro, apenas interrompendo a ação, momentaneamente, para retirar o espinho do solado do chinelo.
Era por volta de umas sete horas e as mulheres vinham do mercado com suas compras. O primeiro grande impulso para gritar com o menino em uma voz zangada e grossa aconteceu de uma senhora da Rua da Guela. Nas manhãs de terça-feira, ela costumava ir à casa da filha, que morava próximo ao pontilhão.
A sensação doce que o canto do bem-te-vi trazia ao espírito tornou-se o motivo mais considerável para as palavras em tom fonético gritante:
_ Moleque!... Deixa o bem-te-vi cantar em paz!
Não se podia deixar de notar o impasse que se criou na alma do menino, que tendeu a soltar respostas pesadas sabendo-se recriminado por suas traquinagens.
Mas soluções favoráveis ao equilíbrio de um dia poético (2012).
podem representar a valorização da liberdade e continuam querendo ser a força de se acreditar que criança é um coração abençoado.
_ Tudo bem senhora! Estou errado. Já estou saindo...
Como se chamará esse menino? Vai ser um ambientalista.

Teresa C C de Sousa Teresa C C de Sousa Autor
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