Poesia

A montanha

Como a montanha é gigante
Por que será que cresceu?
Terá engolido vento?
Ou engordou de preguiça?
Montanha é feito elefante
tem memória, passo lento
e uma alma transparente
feita das nuvens do céu.
Sempre que olhamos pra ela
ela já cravou na gente
os seus olhos de Gulliver
com um milênio de enigmas.
Talvez ela tanto cresça
pra poder guardar o tempo
e o tempo nunca se perca
nem nunca desapareça
em caso de contratempo.
Estonteante montanha
esfinge que não se espanta.
Quem nunca subiu numa delas?
Ou escreveu o seu nome
nas pedras que ela acalanta?
Olhar os homens pequenos
e as cidades menores
não muda o nosso tamanho
mas nos faz muito maiores
...que delícia de altura!
Oh, montanha de ternura!
Que montanha de mistério.
Junto com o tempo ela guarda
segredos em seu minério:
os sermões da cristandade,
a clausura dos profetas,
o delírio dos poetas,
a morte dos alpinistas
o destino das batalhas,
o abrigo dos vulcões,
e o desafio da conquista.
A montanha tem família
que se chama cordilheira
com uma porção de parentes.
A serra é uma irmã mais nova,
o morro é sobrinho torto
-mais pobre e amistoso -
já a suave colina
-que esconde enquanto se inclina-
é um declive sem fim
e o monte é um elevado
pequeno e desajeitado
não mais que um parente afim.
Eu que não tenho estatura
- só a corcunda é que cresce -
nem o porte majestoso
contento-me em ser seu súdito
com dez palmos de candura
e um pé de profundidade.
Montanha amiga do tempo
tesouro de ouro em pó
declaro a minha amizade
da planície em que morremos
perdidos de ser tão sós.











Pedro L R Pereira Pedro L R Pereira Autor
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