Poesia

Depilado

Desfiz-me de todo pelo pelo corpo
Para observar-me exorto no espelho
Reneguei de mim toda experiência
Para ver como fui quando criança
Numa tentativa tola, em vão e em vermelho
De tentar reaver a inocência
De buscar no corpo liso a esperança
De uma lucidez constante e repetida
Que vai destruindo a inspiração e a lida
Que vai amargurando a gente
Desfiz-me de toda roupa e todo orgulho
Dessas coisas que para um corpo sagrado
Não passam de um monte de entulho
Não trazem nada de mais
Só nos vão tornando um pouco menos gente
Tornando-nos cada vez menos capaz
De falar de amor ou de virtude
Ou de outra qualquer coisa verdadeira
Que inunde a alma por inteira
Que precise de esforço e atitude



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